Em tempos que já lá vão, num Porto que já lá vai, numa rua ali quem vem das Flores, vivia um homem a quem tudo lhe ia bem. Chamavam-lhe o Boca Santa.
Confiando no seu bom gosto, decidiu abrir uma confeitaria, fazendo disso o ganha-pão. Mas ninguém o entendeu. "Os bolos são miseráveis", começaram a dizer. O homem fechou as portas, meteu-se em casa, e nunca mais apareceu.
"Foi um grande amargo de boca", ouvia-se.
Um pouco mais além, na Rua dos Mercadores, vivia a Dona Preciosa. Herdara de seu pai, importante relojoeiro, um dente de ouro - que ostentava orgulhosa. Um dia apercebeu-se que, quando falava, o olhar das pessoas à volta brilhava. Pensou então que teria um discurso rico e enveredou pela política. Mas ninguém a entendia - e veja-se que nem sequer palavras caras dizia - ninguém a entendia e pronto. Foi outra que se meteu em casa e nunca mais abriu a boca.
O tempo foi passando, o povo sentia-se culpado - andava com o nó na garganta. Das ruas gritava "Boca Santa! Boca Santa!" ou pedia à Preciosa que mostrasse o dente de ouro.
Mas nenhuma palavra os demoveu.
Até que um dia alguém lembrou "E se falássemos com o senhor Govinda?!"
Explicando: Govinda era um indiano que tinha aberto naquela zona uma daquelas lojas atulhadas de santos que tresandam a incenso. Vai daí, pensou-se estar ali, o milagre.
O senhor lá acedeu. Pediu o silêncio ao povo, encheu de ar os pulmões, e do meio da rua falou. Ninguém o entendeu - foi na língua dele. Mas eis que o Boca Santa à varanda se viu - dando o gostinho à gente - e a Preciosa, com o dente de ouro na frente, da janela reluziu.
"Govinda! Govinda! Eh pá os santos de tua casa fazem mesmo milagres!" disseram-lhe.
Disse-lhes ele "Nada disso, é só o dom da palavra. Sou indiano: a minha língua é sagrada."
Dia 25 de Fevereiro, sexta feira, conheça o poder do Sânscrito - a língua sagrada da Índia.
21h30 no Yoga sobre o Porto. Traga o seu dente de ouro e venha dar à língua!
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